sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Não é nada, eu só gosto de você

Um dia qualquer nós nos esbarramos em uma rua qualquer em um lugar improvável. Bum. Bam. Meu cérebro simplesmente não entende. Branco. Gelo. Fico presa no déjà vu infinito, processando o que acaba de acontecer. Instantes eternos. "Coincidência", dizem seus olhos ligeiramente caídos. Eu, de volta ao corpo, acho que é um sinal. Sempre acho que é.

Nos cercamos de formalidades em uma conversa vazia. Antes foi tão fácil,  e quando acabava o assunto, a gente criava uma ficção para nunca pararmos de falar. Então,  depois desses instantes -intermináveis de novo- de papo furado, finalmente, você me enxerga. Sabe como é, não consigo disfarçar nada, tenho no rosto uma expressão, um misto de decepção com outra coisa que você não consegue identificar. Então, pergunta: "O que foi?". Não penso: "Nada de mais, eu só gosto de você."

Não é surpresa, mas você fica sem reação. Estamos presos a esse momento. Alguém por favor interrompe? Para pra pedir informação ou esmola, começa uma briga ou um flash mob. Qual.quer.coisa. Não pode começar a chover? Qual.quer.coisa para acabar com isso logo. Te encaro com meus olhos pequenos e caídos, já marejados. Talvez,  um dia, por um segundo, você gostou de mim. "Desculpa", diz, me beija no rosto, olha para mim e vai.

Chego em casa, deito, encaro o teto. Mais uma besteira para minha coleção. Não era mesmo nada de mais, penso, reafirmo,  asseguro. Não era. É bom, ele devia ter ficado feliz, mas é difícil ouvir que alguém gosta de você. Sinto um alívio. Acabou. Não era nada de mais, penso, reafirmo, asseguro, durmo.

Esclarecimento: esse post é uma ficção, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Por que você não desaparece?

Entrei no restaurante lotado, vasculhei o salão com os olhos em busca de um lugar, lá no fundo, eu o encontrei sentado em uma mesa grande. Aquela era a primeira vez que o via desde que resolvi parar de encontrar com ele voluntariamente. Foi como tomar um soco na boca do estômago. Fiquei sem ar, entrei em pânico. Depois de todo aquele tempo, ele ainda tinha efeito sobre mim.

Não devia ter sido assim. Quem deveria ter saído envergonhado do restaurante era ele. Tem gente que sente orgulho de partir coração alheio. Nunca deve ter sentindo palpitações só de estar ao lado de quem  se gosta. Ele me dava palpitações e eu lhe dava todas as chances de ser um homem decente. Ele nunca foi.

Nos meses seguintes, nos cruzamos incontáveis vezes. Eu virei rosto e me neguei a responder as mensagens. "Por que ainda tem meu telefone? Não namora? O que tem para me dizer e não disse em todas as oportunidades? O que tem para me mostrar? Pare." - pensava.

Resignação. Um dia passou. Ele virou um qualquer um -um cara que merece exatamente aquilo que recebe. Você percebe que a história que criou na sua cabeça não faz sentido algum. Difícil até entender o que me levou a insistir tanto nele. Acho que é aquele desejo incontrolável de acreditar que pode dar certo. Não sei se amor existe, mas resignação, sim. E, posso falar? É muito bom.


terça-feira, 30 de julho de 2013

We'll not always have Paris

"Se eu soubesse escolher vinho, te chamaria para tomar uma garrafa", o convidei. Havia uma pressão para que eu o conhecesse. Então,  naquele fim de noite de fim de inverno, naquela cidade que não era nossa, eu o encontrei na saída do metrô - já que ele não encontrara meu hotel. Quando ligou dizendo que me esperava lá, eu já não acreditava que apareceria. "É diferente do que imaginava", pensei. "Mais baixinho e menos bonito." Eu usava o casaco de penas de ganso por cima de uma camisa listrada de branco e azul, uma maquiagem leve, sem batom. Tinha arrumado o cabelo.

Caminhamos um pouco e entramos em um restaurante escolhido aleatoriamente -é verdade que àquela hora, eram poucas as opções. Lembro do lugar, da mesa na qual sentamos, do que ele pediu. "Estou impressionado, as pessoas te entendem", ele disse. No fim, tomou vinho sozinho.

Por algum motivo, naquela noite, naquela cidade, com ele, eliminei filtros e barreiras, fui o mais eu que podia ser. Parecia orgânico. Uma noite fluida. Quando me deixou na porta do hotel, dizendo que voltaria se não conseguisse pegar o metrô, era como se me despedisse de alguém que sempre conheci. Uma coisa meio mágica, se me perguntarem.

Eu o acho demais, fora do comum, desde que o conheci –aliás, acho hoje ainda mais do que antes. Não era, nunca foi paixão minha,  mas um interesse. Ele não voltou. Deve ter tido uma noite diferente da minha, com uma mulher menos interessante e mais ingênua. Às vezes sinto que me engano, que não houve nada de extraordinário naquela noite, ou ele não foi capaz de enxergar. Que pena, era Paris.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Pequena fábrica de mulheres (ou circo dos horrores)

Desde o início deste blog tão pouco atualizado,  sou uma mulher solteira. Aliás,  desde antes de sua criação.  Se perguntarem o motivo, não sei. Talvez seja exigente demais, talvez não esteja tao aberta para os "partidos" que aparecem, talvez tenha escolhido me envolver e gostar dos caras errados (talvez não,  com certeza).  Uma coisa é fato: eu não domino a arte da conquista -e não é primeira vez que eu assumo isso. É evidente que nem sempre sou feliz solteira, vamos ser honestas, também não é o fim do mundo, né?
Não sou durona nem bem resolvida. É bem o contrário, e o mais importante: eu não quero passar a vida sozinha. Mas parece que há mocinhas de todas as idades em situação pior. Elas estão desesperadas, mas tão desperadas que a única salvação é se tornar uma "mulher magnética". Se não sabem do que estou falando, recomendo que leiam as reportagens da TPM e da Folha e, por favor, entre em choque.
Eu sei, dá preguiça. Tudo bem, faço um resumo: há uma psicóloga em São Paulo que promete transformar mulheres naquilo que os homens buscam. Uma Amélia, dependente, que, quando não está no salto, anda nas pontas dos pés,  não fala diretamente com o garçom nem conversa sobre trabalho, ah, e carrega uma calcinha sexy na bolsa. Um grande desfile de absurdos e machismos.
Não bastasse isso, a Time publicou uma reportagem sobre uma nova técnica de emagrecimento que é sucesso na Venezuela. O procedimento, nada confortável,  consiste em COSTURAR uma espécie de atadura na LÍNGUA de forma a tornar insuportável a ingestão de alimentos sólidos. Dieta líquida por um mês,  dor por um mês, quilos e quilos a menos.  A que custo? Por quê? Muitas dizem que não há saída,  precisam mudar o corpo ou ficarão sozinhas.
Eu sempre lembro do Boris nessas horas.
- O horror. O horror. O horror.
Apenas parem. O que querem ser? O que querem se tornar? Acéfalas bonecas infláveis? Se esconder atrás de uma máscara de maquiagem e dentro de uma fantasia que não lhes cabe? Ser pra sempre outra pessoa? Ninguém resiste a isso muito tempo. Posso não saber o que homens querem, mas prefiro acreditar que os que realmente interessam não buscam uma mulher que saiu da produção em massa. O divertido é ser única, com todas as personagens que vêm junto!
Eu já pensei em abandonar o batom vermelho por certo gordinho semidébil, eu poderia viver com cor de boca se e isso o fizesse ficar comigo. Ainda bem que desisti da ideia, ele nao valia qualquer esforço.  Uma coisa é ceder por alguém que gosta de você na mesma intensidade e com o mesmo cuidado, relacionamentos têm dessas coisas, desde que a gente não perca a essência. Bem diferente é ser outra pessoa só para tentar conquistar alguém.
Acho que precisamos ser vaidosas e se preocupar com a saúde. Acho que se arrumar um pouco faz bem para a gente e que será bom não ter um infarto aos 30 anos. Mas também acredito que há mais, que uma boa conversa e senso de humor são fundamentais. Todo mundo pode ser um pouco melhor. Mas a motivação para isso deve ser simplestemente estar bem consigo mesmo. Só isso. Faça apenas o que te faz bem, tá?

quarta-feira, 24 de abril de 2013

I'll be dancing with myself

Eu estou desfilando com o estandarte do bloco do "eu sozinho". A ideia de morrer sozinha não -mais- me incomoda muito. O problema é passar todo esse tempo, até a morte, sozinha. Sabe? Até morrer com o gato e a samambaia? O importante é só ter alguém, um amigo, um irmão, um assistente social, que me ligue umas vezes por semana para se certificar que eu não estou lá, apodrecendo e incomodando os vizinhos.


Há uma ideia equivocada sobre como é horrível ficar sozinho. Ser sozinho é horrível. Ficar sozinho é necessário, faz parte, acontece com todo mundo. O medo de nunca encontrar alguém nos aterroriza toda vez que ficamos sem companhia para um programa qualquer. Pois bem, do alto da minha experiência em andar por esse mundo sem estar de mãos-dadas com alguém, eu pontuo:

- Um relacionamento não é a solução para seus problemas. Sua vida não é necessariamente melhor porque tem um par. Não fique em um relacionamento infeliz por medo de não ser feliz sozinho.

- Não aceite migalhas. Não se apegue a promessas vazias. Não comece a namorar só para ter companhia. Não ter namorado não significa que você não tem amigos.

- Não é saudável pular de um relacionamento para outro, na urgência de mostrar que pode fazer um relacionamento dar certo. Dizem que tudo acontece quando tem de acontecer.

- Finalmente, aceite ficar sozinho. Não como um estado imutável nem de forma pessimista.Começo a acreditar que tem um fundo de razão o clichê "aprenda a apreciar a própria companhia para os outros quererem estar ao seu lado".  Apenas siga adiante, aprenda a se divertir sozinho. Por que, se há uma vantagem em ser solteira, é poder fazer só e exatamente o que se tem vontade.

Se você não está convencida,  talvez, esse post do Buzzfeed te convença: 24 Most Underrated Parts of Being Single. Encerro com um desafio: assistir ao vídeo e testar algumas sugestões:



 (eu sempre danço sozinha, pagando mico e tudo mais, mas se você quiser, eu danço com você, tá?)