domingo, 8 de dezembro de 2013

She's standing right in front of you. Can't you see?

Para chamar sua atenção, ela aprendeu sobre esportes que não a interessavam, ouviu discografias inteiras de bandas que antes nem sequer faziam parte de seu repertório, leu notícias sobre assuntos aleatórios, googlou temas para poder manter a conversa viva. Como uma criança que sempre estende a mão para dar a resposta à pergunta feita pela professora, ela erguia e balançava o braço e pedia: "me note, me note, me note".
Ela não queria ser outra pessoa, apenas uma versão mais compatível com ele. Foi em vão; e esse foi o melhor desfecho para a história. Em vez de sentir-se fracassada, sentiu-se livre da obrigação de ter pensar o tempo todo em como se comportar. Podia simplesmente escutar o que gostava e parar de fingir ter assistido àquele filme clássico (que seria uma obrigação), comportar-se da forma com sua própria natureza mandasse.
Pensa se um relacionamento desses vai pra frente? Quando ela ia poder relaxar? Quando ela ia para de ter medo de ser uma 'fraude'?
Não deixou de gostar dele em um piscar de olhos, simplesmente desistiu de tentar impressionar. Percebeu que faltava segurança para ser surpreendente do jeito dela. Talvez ela não encontre alguém tão fácil assim, talvez ela não mereça por lhe faltar autoconfiança, talvez ela simplesmente deva parar de pensar em um monte de talvez. Uma coisa é fato: ficar com o braço erguido, uma hora, cansa. :/

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Respiração

E com uma inspiração profunda veio um saudade que ocupou logo todo seu corpo como o ar entrando em seus pulmões. Cercada de desconhecidos desinteressantes (não é fácil encontrar o contrário), ela acompanhava baixinho o cantor e o violão em músicas que não faziam sentido naquele lugar, mas eram a trilha perfeita para o momento. Uma lágrima discreta escorreu do canto de seus grandes olhos brilhantes.
Ele tinha grandes fones cobrindo sua orelha e escutava o novo álbum de uma banda de indie rock qualquer sentado no sofá, com as pernas esticadas na mesa de centro (era estranho ele ter uma mesa de centro). Pensava em garotas,  às vezes sorria maliciosamente, puxando os lábios para o canto esquerdo do rosto, ao lembrar de uma história. Lembrou dela, uma moça bacana -não perguntem o que quer dizer porque ninguém aqui entende homem-, uma conversa fácil e meio sem noção. Depois, voltava a prestar atenção em seja lá o que tocava.
"Saudade de nossas noites falando sobre qualquer coisa."
Mensagem enviada. Mensagem entregue.
tic.
tac.
tic.
tac.
tic.
tac.
Mensagem lida.
tic.
tac.
":)
Também. A gente se encontra."
Mensagem enviada, entregue, lida; sem tic nem tac, mas com o palpitar acelerado do coração.  Ela não respondeu de volta. Expirou, expulsando todo o ar como se o tirasse de dentro de seu corpo.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Meio sem perceber, sem querer, sem ser

Um poster de filme clássico em um sebo, uma música de uma banda pouco conhecida tocando no restaurante, um time de futebol de um país remoto, um cachorro na rua, uma piada sem graça mas engraçadinha no Facebook. Sei seu autor preferido, sua banda, suas referencias. Não vou dizer que te conheço bem, seria exagero, mas eu prestei atenção. Foi sem querer. Nem eu sabia que existia tanta coisa assim pra me lembrar de você.

Nunca foi fácil, a gente nunca foi fácil. A gente nunca foi qualquer coisa. Eu tentei te entender,  mas você não permitiu. Eu não fui clara, fui medrosa. Achei que, em algum momento, fosse ser notada. Depois de tudo que foi deixado de falar e de tudo que não deveria ter sido dito posto para fora, o que sobrou? Pedaços que não se encaixam. Uma não história de amor. Deixa pra lá,  nunca achei que fôssemos feitos para ficar juntos -mas gostaria muito que fosse o contrário.

Por aí,  um monte de gente sofre por não ser correspondida (detesto essa expressão), eu fico aliviada de saber que sou capaz de sentir alguma coisa por alguém.  Simples assim.  E não dói,  não me tira o sono nem me faz chorar. Só é um estado permanente e, ao mesmo tempo, momentâneo em que me encontro apaixonada. Agora, me beija e fade out. 

Esse post é uma ficção,  qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Não é nada, eu só gosto de você

Um dia qualquer nós nos esbarramos em uma rua qualquer em um lugar improvável. Bum. Bam. Meu cérebro simplesmente não entende. Branco. Gelo. Fico presa no déjà vu infinito, processando o que acaba de acontecer. Instantes eternos. "Coincidência", dizem seus olhos ligeiramente caídos. Eu, de volta ao corpo, acho que é um sinal. Sempre acho que é.

Nos cercamos de formalidades em uma conversa vazia. Antes foi tão fácil,  e quando acabava o assunto, a gente criava uma ficção para nunca pararmos de falar. Então,  depois desses instantes -intermináveis de novo- de papo furado, finalmente, você me enxerga. Sabe como é, não consigo disfarçar nada, tenho no rosto uma expressão, um misto de decepção com outra coisa que você não consegue identificar. Então, pergunta: "O que foi?". Não penso: "Nada de mais, eu só gosto de você."

Não é surpresa, mas você fica sem reação. Estamos presos a esse momento. Alguém por favor interrompe? Para pra pedir informação ou esmola, começa uma briga ou um flash mob. Qual.quer.coisa. Não pode começar a chover? Qual.quer.coisa para acabar com isso logo. Te encaro com meus olhos pequenos e caídos, já marejados. Talvez,  um dia, por um segundo, você gostou de mim. "Desculpa", diz, me beija no rosto, olha para mim e vai.

Chego em casa, deito, encaro o teto. Mais uma besteira para minha coleção. Não era mesmo nada de mais, penso, reafirmo,  asseguro. Não era. É bom, ele devia ter ficado feliz, mas é difícil ouvir que alguém gosta de você. Sinto um alívio. Acabou. Não era nada de mais, penso, reafirmo, asseguro, durmo.

Esclarecimento: esse post é uma ficção, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Por que você não desaparece?

Entrei no restaurante lotado, vasculhei o salão com os olhos em busca de um lugar, lá no fundo, eu o encontrei sentado em uma mesa grande. Aquela era a primeira vez que o via desde que resolvi parar de encontrar com ele voluntariamente. Foi como tomar um soco na boca do estômago. Fiquei sem ar, entrei em pânico. Depois de todo aquele tempo, ele ainda tinha efeito sobre mim.

Não devia ter sido assim. Quem deveria ter saído envergonhado do restaurante era ele. Tem gente que sente orgulho de partir coração alheio. Nunca deve ter sentindo palpitações só de estar ao lado de quem  se gosta. Ele me dava palpitações e eu lhe dava todas as chances de ser um homem decente. Ele nunca foi.

Nos meses seguintes, nos cruzamos incontáveis vezes. Eu virei rosto e me neguei a responder as mensagens. "Por que ainda tem meu telefone? Não namora? O que tem para me dizer e não disse em todas as oportunidades? O que tem para me mostrar? Pare." - pensava.

Resignação. Um dia passou. Ele virou um qualquer um -um cara que merece exatamente aquilo que recebe. Você percebe que a história que criou na sua cabeça não faz sentido algum. Difícil até entender o que me levou a insistir tanto nele. Acho que é aquele desejo incontrolável de acreditar que pode dar certo. Não sei se amor existe, mas resignação, sim. E, posso falar? É muito bom.