O batom já havia impresso uma marca na taça, mas ainda segurava
nos lábios um discreto e confortável sorriso. Falava desses assuntos vazios, a
pauta de festas entre conhecidos, até lhe perguntarem se sabia dele. Suspirou
profundamente. "Não", respondeu com um sorriso amarelo substituindo
o, até então, vermelho forte. Contraiu os lábios.
Não havia outro assunto capaz
de tira-la do centro como aquele. Religião, política, aborto, não a incomodavam.
Detestava as lembranças dele. Eram todas boas. Boas demais, davam saudade. E,
saudade pode ser pior que dor. Então essa foi uma história de amor, vocês
devem estar pensando. É. Ela não diria isso.
Ela diria que sente falta dos beijos de tirar o ar, do abraço
tão apertado que dava para sentir o pulso, das noites insones juntos, dos
dias de expectativa. Do cheiro. Do calor. Da voz. Das cócegas. De todas essas
pequenas coisas que aparecem bobagem para o outros.